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Musicoterapia e Neuroacústica

Estudo • ago. 22, 2018

Que as músicas tem o poder de mexer com nossas emoções a gente já sabe. Mas você sabia que elas podem ser usadas para tratamento de doenças e são indicadas, inclusive, para amenizar dores físicas? Conheça mais sobre a musicoterapia e a neuroacústica.

“Hoje vou ouvir uma música triste para curtir minha fossa”, “estou cansado, vou colocar um som calmo para relaxar”, “preciso estudar, vou ouvir Mozart para ajudar”. Se não foi você quem falou uma dessas frases, foi seu vizinho, amigo, irmã, mãe, prima, ou qualquer outra pessoa próxima. O fato é que você já ouviu pelo menos uma delas. Agora imagine a seguinte situação: você está com seus amigos em uma festa. Começa a tocar a música “X” que lembra a viagem que vocês fizeram juntos na época de escola. Dá aquela sensação de nostalgia ou um prazer inexplicável que arranca sorrisos de todos os seus colegas, uma espécie de alegria coletiva. Acho que já deu pra perceber que a música, interfere em nosso humor, não é?

Mas não são apenas nossos sentimentos que são tocados pelos sons. Nossas experiências sensitivas também. O ritmo tem o poder de mudar muitas características como batimentos cardíacos, pressão sanguínea, pressão arterial e a velocidade do metabolismo. A música entra em contato diretamente com nosso sistema límbico cerebral, mesma região das emoções e afetividade. Ela pode até contribuir na produção da endorfina, que é nosso analgésico interno, considerado o hormônio do prazer; e a serotonina, que possui funções diversas, como a regulação do sono e do apetite. Acessam também nosso hipocampo, que é a área do cérebro responsável por nossas memórias. Quando você ouve uma música de sua infância e lembra automaticamente daqueles tempos, é seu hipocampo quem está falando. A produção e liberação de dopamina (que está envolvida no controle de movimentos, aprendizado, humor, emoções, cognição e memória) e da noradrenalina (que influencia o humor, a ansiedade, o sono e a alimentação) também é ativada quando ouvimos determinados ritmos. Os sons podem trazer até alívio de sintomas físicos como hipertensão, dores crônicas como as do câncer.

Reconhecendo esse poder terapêutico, surgiu a musicoterapia, que pesquisa a relação do homem com os sons, transformando os resultados desses estudos em métodos para serem aplicados em pacientes. A prática já é adotada em diversos hospitais. No Brasil, algumas APAEs (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e Centros de Reabilitação já usam a musicoterapia em seus tratamentos.

Apesar de a eficácia do uso de sons ser comprovada por estudos, a autora do livro O Despertar Para o Outro, Clarice Moura Costa, diz que muitas pesquisas de musicoterapia não são desenvolvidas coerentemente porque as músicas são atribuída a artistas, que costumam confiar mais na intuição do que na ciência, o que provoca desconfiança em quem só aprova métodos científicos, baseada a partir do século XIX no que chamamos de ciências exatas. Outro motivo é a inexistência de cursos ou escolas que ensinem a musicoterapia, deixando a iniciativa de tratar pela música para pequenos grupos ou para estudos individuais.

Mas os estudos existem...

Clarice afirma que o Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro estimula a prática de estudos inovadores, entre eles, os sobre música. Eles tentam “mostrar que ela é uma linguagem própria que permite a expressão de conteúdos internos. Esquizofrênicos, por exemplo, possuem dificuldade com a expressão verbal, portanto, calcula-se que um melhor modo de se expressarem seja pela música” esclarece.

Um estudo feito na Glasgow Caledonian University, sob a liderança do especialista de áudio Don Knox, mostra que o tom, a estrutura e a letra produzem impactos significativos na emoção. Mas fatores externos, como onde e quando você ouve o som e quais suas associações também influenciam em um tratamento. Essa pesquisa envolveu voluntários que ouviram músicas populares pela primeira vez e as avaliaram de acordo com o sentimento que despertavam. Depois, a equipe de Knox avaliou as características das músicas que caíram em um ponto comum no gráfico feito pelos voluntários. Músicas com ritmo regular e timbre vivo foram classificadas como positivas, por exemplo.

Outro estudo, apresentado na American Society of Hypertension apontou que a música pode baixar a pressão arterial e o ritmo cardíaco – o que traria outros benefícios além do relaxamento, como ajudar no tratamento de hipertensos e atuar na prevenção de doenças cardiovasculares.

Os sons também são grandes aliados no tratamento da dor. Pesquisa realizada pela Cleveland Clinic Foundation, nos Estados Unidos, comprovou que ouvir música pode ter efeitos benéficos no tratamento de dores crônicas, como as causadas pelo câncer. Por isso a musicoterapia já está sendo usada pelo Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer como parte do tratamento. De acordo com os resultados de uma pesquisa conduzida pela musicoterapeuta Maria Helena Rockenbach, na Oncologia Pediátrica do Hospital da Criança Conceição e no Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, a música rendeu uma melhoria de 74,8% no estado de ânimo das crianças adoecidas.

Muitos sons podem ser mais eficientes que o uso de medicações na hora de diminuir sintomas de ansiedade e estresse, conforme dados de uma pesquisa feita por Daniel Levitin e Mona Lisa Chanda, psicólogos da universidade canadense McGill. Eles mostram que os sons trazem benefícios como controle do humor, aumento de imunidade e o controle da dor. A pesquisa foi feita com mais de 400 publicações científicas. Daniel afirmou que “as pessoas que ouviram ou tocaram música para diminuir a ansiedade não tiveram efeitos colaterais e obtiveram melhores resultados do que aquelas que usaram medicamentos”.

Em outro caso, pesquisadores norte-americanos analisaram 1.891 pacientes em 30 experimentos distintos. Desses, 13 usaram música ao vivo e 17 usaram gravações. A duração e as frequências dessas terapias variaram bastante. Foi comprovada a baixa da ansiedade quando comparada ao tratamento convencional, além de melhorias na qualidade de vida e benefícios para a respiração. Esses são apenas alguns exemplos de estudos.

Achando a ISO para a musicoterapia

O tratamento com acústica não é tão simples e não pode ser feito em casa. É necessário um profissional para analisar a Identidade Sonora do Indivíduo (ISO). Cada pessoa possui sua própria bagagem, sons e músicas que narram sua história pessoal. Esse conjunto é único e individual. A musicoterapia tem como objetivo acessar partes dessas lembranças fazendo o paciente resgatar situações vividas e com isso dar novos significados para suas dificuldades. O estilo musical pouco importa, não há uma regra preestabelecida, pois o agrado sonoro vem da história de cada paciente. Os resultados dessa prática podem ser sentidos após dez dias de tratamento, garantem os profissionais da área.

Neuroacústica

Existe também um método de estimulação através de frequências sonoras, chamado Neuroacústica, idealizado pelo psicanalista e pesquisador brasileiro Marcelo Peçanha de Paula, de Minas Gerais. “A audição é um sensório obrigatório e isto significa que ela não se desliga nunca, funcionando 24 horas por dia, todos os dias da semana. Por isso pode ser utilizada independentemente do estado de consciência, tornando-se uma ferramenta sem igual para se trabalhar com casos como os de coma”, explica o pesquisador. O primeiro material escrito pelo pesquisador sobre esse assunto foi “Processo Terapêutico Integrado: Neuroacústica”, de 1998, que é uma espécie de manual do método. Para entender melhor de que forma a Neuroacústica funciona, o psicanalista exemplifica com o momento em que acordamos através dos sons de um despertador. “Independente da fase do sono em que estejamos, acordaremos com o despertador quando o som passa pela orelha e a audição faz sua parte requisitando atenção do cérebro”, afirma. Para a utilização dos sons como tratamento, De Paula lembra que “deve-se respeitar o nível de conforto sonoro do ouvinte, que é individual e está relacionada ao nível de neurotransmissores e também hormônios”. Mas na opinião de De Paula os sons não bastam para curar doenças: “particularmente, sou muito resistente à ideia de que os sons curam. O que posso dizer, pela minha própria experiência é que os sons são complementares”. Porém, ele ressalta que “em algumas condições não há remédio a ser utilizado e a audição torna-se um dos únicos recursos conhecidos atualmente. Nos casos de coma, por exemplo, não há outro modo atual que seja tão eficaz”.

Sons binaurais

Quem não se lembra da febre do I-Doser nos anos 2000, programa com sons que ao serem ouvidos supostamente levam o ouvinte a experimentar sensações de algumas drogas como maconha, cocaína e álcool? Cada dose varia de 5 a 60 minutos para surtir efeito. Criado por Nick Ashton, especialista em psicologia e música, a produção do programa teve dez anos de pesquisa com base no conhecimento de que se poderiam criar efeitos que simulassem estados ou experiências através de sons. Os sons do programa são feitos através de ondas binaurais: emissão de sons que alteram a frequência do cérebro. Descobertos em 1839 pelo pesquisador alemão Heinrich Wilhelm Dove, esse tipo de tom funciona com frequências diferentes que são apresentadas uma a cada ouvido e processadas pelo cérebro para produzirem a sensação de uma terceira frequência, a binaural. Em 1995, um estudo realizado pelo pesquisador Chok C. Hiew demonstrou que os tons binaurais de categorias delta (de 1 a 4 hertz) e theta (de 4 a 8 hertz) estão associados com o relaxamento, a meditação e os estados criativos, além de ajudar a conciliar o sono. Alguns anos antes, em 1985, o americano Robert Monroe havia declarado que os tons binaurais em freqüências beta (de 16 a 24 hertz) estão associados ao aumento da concentração.

Testando o poder dos sons em casa

Há tempos esse áudio de uma barbearia roda pela internet. Para escutá-lo, use fones de ouvido, esteja em um lugar silencioso e feche seus olhos: https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=IUDTlvagjJA

As sensações provocadas pelo áudio são muito realistas.

A nauroacústica pode ser testada gratuitamente através desse link: http://www.neuroacustica.com/experimente.php

E para completar: um estudo realizado no Reino Unido pela British Academy of Sound Therapy, mostrou as 10 músicas mais relaxantes do mundo. A pesquisa foi encomendado pela empresa Radox Spa e testou 40 mulheres colocadas sob situação de estresse. Foram analisados seus batimentos cardíacos, pressão sanguínea, respiração e atividade cerebral. O som campeão é “Weightless”, dos britânicos Marconi Union que é 11% mais relaxante que as demais, e reduziu a ansiedade em até 65%. Lyz Cooper, fundadora do British Academy of Sound Therapy explicou que Weightless “faz uso de vários princípios musicais que são conhecidos por individualmente ter um efeito calmante. Ao combinar esses elementos, como fez o Marconi Union, foi criada a música relaxante perfeita”. O pesquisador David Lewis-Hodgson, responsável pelo estudo, lembrou que “a música atinge um nível muito profundo dentro do cérebro, estimulando não só as regiões responsáveis pelo processamento do som, mas também aquelas associadas a emoções” e ainda alertou que “Weightless foi tão eficiente que muitas mulheres ficaram sonolentas e eu recomendo que as pessoas não dirijam ouvindo essa música porque pode ser perigoso”.

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